Uncontrollably Far
quarta-feira, 26 de março de 2014 @ 21:09
Certa vez, acreditei que tinha resolvido todos os meus problemas. Que tinha largado os amores que não me faziam bem, que tinha deixado de lado as coisas que me magoavam e, principalmente, que tinha aprendido a lição. 

Certa vez, pensei que acordaria mais leve e que meus olhos não estariam mais inchados pela manhã. Pensei que tinha resolvido tudo, que tola eu fui. 

Acordei na manhã de domingo mais pesada do que antes. Deixei que os pesos da vida caíssem sobre meus ombros e eles ficaram por lá, pesando minha coluna, me deixando curvada todo o dia. Meus olhos estavam pesados e as lágrimas não saiam do lugar. Elas não saiam por que eu não deixava, nunca deixei. Talvez seja por isso que sinto esse peso em mim de forma tão brusca. Eu não deixo meu corpo liberar a dor. No fim das contas, é como se eu gostasse de alimentar essa vontade de me sentir pesada, cansada e vazia. Ou será apenas uma característica minha?

Certa vez percebi que minha tristeza tinha alma de artista. Sempre que aparecia, ela trazia uma amiga, a inspiração. No começo adorei a visita, mas depois comecei a me incomodar. Por que ‘diabos’ a inspiração não vem com felicidade? Mal sabia eu, que ela vinha sim. A inspiração sempre batia na porta quando a felicidade estava em casa, mas eu nunca abri. Que erro grave. 

Acontece, que nem mesmo a tristeza tem chamado à inspiração. Ela cansou de vir apenas quando tinha um sentimento amargo dentro de mim. E deixou um bilhete com a seguinte mensagem: “Agnes, me procure quando a felicidade estiver ai também, gosto dela. Assim como gosto da tristeza, mas, por favor, me chame mais quando a felicidade estiver ai.”. 


Devo confessar que ainda não tentei chamá-la quando a felicidade estava aqui, entretanto, nesse momento de sentimentos estranhos – veja bem, não exatamente uma tristeza – a inspiração apareceu outra vez. Ela sorriu pra mim de uma maneira que não sorria há tempos. E eu tenho certeza de que ela sempre esteve ali, esperando que cada sentimento me fizesse voltar a escrever, assim como fiz agora para você.

Agnes Martins

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